SUAVE LENCINHO



SUAVE LENCINHO
João Nunes Ventura.

O lenço que me estendesse
Ao enxugar o seu lamento,
Eu guardei de recordação
Desse impensado momento.

E essas lágrimas dementes
Dos seus olhos azulados,
Banharam o lindo lencinho
E os decores perfumados.

Esse lencinho branco
Que um dia você me deu,
É a saudade que restou
Do nosso derradeiro adeus.

Onde mora meu coração
Guardado ficou seu lenço,
Empregnado com o aroma
Do soluço de um amor imenso.

Quantos anos já se passaram
Nunca mais ouvi sua voz,
No lencinho a consolação
Como lembrança de nós.

Quando um dia Deus me chamar
Levo comigo seu suave encanto,
No lencinho meu estimado amor
Com as lágrimas do seu pranto.

A DOR DO VIOLEIRO


A DOR DO VIOLEIRO
João Nunes Ventura-10/2012

Tenho na parede pendurada uma viola
De alto valor de carinho e estimação,
Nela desenhei de saudades um coração
Como lembrança de tudo que se passou,
Foi o meu pai que um dia me ofertou
Com suas cordas pujantes e afinadas,
Que por anos ficaram bem guardadas
No santuário sagrado do seu amor.

Essa viola foi à paixão dos violeiros
No improviso deslumbrado das melodias,
Nas rimas das gargalhadas e alegrias
Nos desafios confrontando seus amores,
Com suas vozes dolentes e apaixonadas
Encantaram desbravando os meus sertões,
Em cada canto festejando os corações
Enamorados das terras dos meus primores.

Também tenho um lindo cavaquinho
Que suas cordas os sons enfeitiçaram,
Com o frenesi que as melodias voaram
No sopro das asas dos mansos ventos,
Desdobrando contentamentos e ternuras
Com o doce encanto de suas harmonias,
Levando esperança na crença das poesias
A um passado de agradáveis sentimentos.

Nos meus intensos cantos de amores
No cavaquinho afaguei a minha mágoa,
Na viola implorei a minha alma
Alívio para o viver dos dias meus,
Ajoelhado aos pés lhe pedi perdão
Fui cruel na hora da despedida,
Com sua voz carinhosa e comovida
E nas lágrimas penosas do seu adeus.

A ESPERANÇA



A ESPERANÇA
João Nunes Ventura

Trago no matulão guardado
A poeira da estrada,
A lembrança de minha amada
E a saudade do meu sertão,
E a velha baraúna
Era a sombra da fortuna
Do meu querido chão.

Lembro-me daquele coreto
Ao som do clarinete
Que meu pai tocava,
Na banda da cidade
Em minha pouca idade
Onde eu brincava.

Vem minha linda flor
Ornamentar meu amor
Faz raiar um novo dia,
Vem com o mel do sabor
Da pele que tua cor
Me fascina de alegria.

Meu olhar na natureza
Vislumbra tanta beleza
Na manhã que se alcança,
Moça brejeira bonita
Cabocla teu peito agita,
Um coração que palpita
Num mundo de esperança.

 Muito obrigada pelo envio dessa linda poesia. Sinto-me privilegiada por ser merecedora de sua confiança, além de sentir-me igualmente feliz por receber, em primeira mão, as emoções do poeta conterrâneo que canta sua terra, sua gente, suas belezas naturais e , por ser do mesmo torrão natal, me faz lembrar de um passado tão distante, cujas lembranças são também as minhas. Parabéns, poeta, que a sua inspiração seja fonte inesgotável, e como consequência nos tragas poemas que, se no seu bojo resgatam sentimentos saudosos dos nossos tempos, no seu título, nos convidam a ter esperança em um futuro melhor. Você se lembrou do coreto da Pracinha, que certamente não era esse, no entanto, para quem vivenciou outros tempos, vai buscar o anterior no baú de suas memórias. Com esse poema você sossegou o espírito do nosso rei do Baião, que cobra lembranças do Coreto da Pracinha nessa belíssima música:



NÃO SOUBE REZAR


Poeta João Nunes Ventura


NÃO SOUBE REZAR
João Nunes Ventura.

Amado sertão
Povo sofrido,
Terra brejeira
Cheiro querido.

Linda montanha!
Belo morro,
Luz do horizonte
Azul formoso.

Mas a seca terrível
O sol que aquece,
O filho nativo
No solo padece.

O tempo passa
Amargo desgosto,
Na face o suor
Resvala no rosto.

Marca do tempo
Tudo acabou,
A água na fonte
Há muito secou.

A seca devasta
Plantas no chão,
Última esperança
Chora coração.

O gado doente
Carrega a cruz,
Fim do caminho
Apaga-se a luz.

Então me pergunto:
Como posso viver?
Onde eu pequei?
Que devo fazer?

Oh, Deus do sertão!
E do meu pensar,
Perdoe este pobre
Que não soube rezar.

Belo Jardim, 24/07/12

VAI MEU POEMA

Poeta Antônio Belo da Silva

   Vai meu Poema

Vai meu poema,
Vais correr o mundo
Não importa se te digam
Que és um poema vagabundo...

Desces montanha,
Sobes serra
Pois somente o que se ganha
É o que a verdade encerra:
Se, como disse o poeta,
“Bom cabrito é o que mais berra!”

Vai meu poema,
Pois o tempo urge!
Se uma palavra acaba,
Outra, ali, ressurge...

Passas sobre as catedrais
Passas por baixo da ponte
Sobes rios, desces vales,
Vais anunciar um mundo novo
Mas nunca esqueças a “fonte”,
Que é a Língua do povo!

Vai meu poema!
Que nunca feneças
Ante à tirania
Ou à opressão
Pois se um dia,
Negares poesia,
Que nunca mais
Pises nesse chão!

Conheço teus sentimentos
Pela mão que te conduz
Eu vi o teu movimento
Indo ao encontro da luz!

Vai meu poema:
Voa!
Se não te derem asas,
Mesmo assim,
Teu grito ecoa!

                    Palmas, dezembro/2007

PAPAI NOEL


Lenelson Piancó é neto da minha tia Lozinha Piancó (in memoriam)
Sobrinho neto do meu saudoso pai Antônio Piancó Sobrinho

PAPAI NOEL

Chamar-te de pai, porque deveria?
Se nem me criou nem é natural
Se apenas um dia por ano é natal
E pai que é pai, é pai todo dia

Chamar-te de pai, não sei se seria
Ao meu pai afronta do tipo "moral"
Pois pai de verdade não manda postal
Nem rouba dos filhos os sonhos que cria

Escrevo esta carta para lhe rogar
Escolha a criança sem pai pra adotar
Lhe dê um presente; a dignidade!

Nenhuma criança criada na rua
Merece presente que o tempo destrua
Mas sim o presente de um pai de verdade.

Lenelson Piancó

RUA DO INFERNO - DINIZ VITORINO

Diniz Viturino (in memoriam)

Poesia dactilografada com cópia anexo mimeografada, encontrado no cofre do meu pai Antônio Piancó Sobrinho, após a sua morte.

RUA DO INFERNO

I
Numa noite de luar
Sai passeando a esmo
Procurando uma ilusão
Para enganar a mim mesmo
Só tinha casas fechadas
Mas após muitas passadas
Parei numa rua imunda
Antro de eterna descalma
Que causou a minha alma
Repugnância profunda
II
Era a Rua do Inferno
Refúgio das meretrizes
Abismo repugnante
Das mundanas infelizes
Damas de várias origens
Que foram belas e virgens
Como intactas flores alvas
Mas que ao vício se entregaram
Na podridão se afogaram
Pra nunca mais serem salvas
III
Pasmei e fiquei estático
Vendo as outras mariposas
Peçonhentas como víboras
Astutas como raposas
Com aspectos pavorosos
Como vampiro gulosos
Sugando a hemoglobina
Dos ébrios cambaleantes
Discípulos horripilantes
da mesma infernal doutrina
IV
Resmungando como abutres
Os bêbados se deleitavam
Pousando nos ombros magros
Das malucas que dançavam
Ao som das músicas fatídicas
Fotografias verídicas
Das deliciantes valsas
Feitas por maestros rudes
Assassino das virtudes
reis das alegrias falsas
V
Outras prostitutas velhas
Que belos anos não tinham
Imploravam com mãos trêmulas
Drinques aos loucos que vinham
Buscando novas corujas
Que eram novas, porém sujas
Como bacias nocivas
Vasos onde os indivíduos
Derramam podres resíduos
De putrefatas salivas
VI
A boca da leviana
É um sarcófago de insetos
Seus seios leitos ocultos
De vermes irrequietos
Os olhos, tochas malignas
Que reinam sombras indignas
De brutos fantasmas críticos
E o ventre? Fábrica do mal
Da confecção brutal
Dos apóstolos favoritos
VII
Ao deixar essas taperas
Com tapetes de mulambos
Porque se Deus os olhasse
Talvez os incendiasse
Desde o piso até as telhas
Pra que essas casas tortas
Não abrissem mais as portas
Pra outras pobres ovelhas
VIII
Fica-te aí rua negra
Covil de bestas humanas
Paraíso de larápios
Abrigo de doidivanas
Fica, maldita! Que eu parto
Pra solidão do meu quarto
Onde meus filhos habitam
Vou em busca de outras ruas
Com nojo das casas tuas
E dos loucos que te visitam

Diniz Vitorino