PAPAI NOEL


Lenelson Piancó é neto da minha tia Lozinha Piancó (in memoriam)
Sobrinho neto do meu saudoso pai Antônio Piancó Sobrinho

PAPAI NOEL

Chamar-te de pai, porque deveria?
Se nem me criou nem é natural
Se apenas um dia por ano é natal
E pai que é pai, é pai todo dia

Chamar-te de pai, não sei se seria
Ao meu pai afronta do tipo "moral"
Pois pai de verdade não manda postal
Nem rouba dos filhos os sonhos que cria

Escrevo esta carta para lhe rogar
Escolha a criança sem pai pra adotar
Lhe dê um presente; a dignidade!

Nenhuma criança criada na rua
Merece presente que o tempo destrua
Mas sim o presente de um pai de verdade.

Lenelson Piancó

RUA DO INFERNO - DINIZ VITORINO

Diniz Viturino (in memoriam)

Poesia dactilografada com cópia anexo mimeografada, encontrado no cofre do meu pai Antônio Piancó Sobrinho, após a sua morte.

RUA DO INFERNO

I
Numa noite de luar
Sai passeando a esmo
Procurando uma ilusão
Para enganar a mim mesmo
Só tinha casas fechadas
Mas após muitas passadas
Parei numa rua imunda
Antro de eterna descalma
Que causou a minha alma
Repugnância profunda
II
Era a Rua do Inferno
Refúgio das meretrizes
Abismo repugnante
Das mundanas infelizes
Damas de várias origens
Que foram belas e virgens
Como intactas flores alvas
Mas que ao vício se entregaram
Na podridão se afogaram
Pra nunca mais serem salvas
III
Pasmei e fiquei estático
Vendo as outras mariposas
Peçonhentas como víboras
Astutas como raposas
Com aspectos pavorosos
Como vampiro gulosos
Sugando a hemoglobina
Dos ébrios cambaleantes
Discípulos horripilantes
da mesma infernal doutrina
IV
Resmungando como abutres
Os bêbados se deleitavam
Pousando nos ombros magros
Das malucas que dançavam
Ao som das músicas fatídicas
Fotografias verídicas
Das deliciantes valsas
Feitas por maestros rudes
Assassino das virtudes
reis das alegrias falsas
V
Outras prostitutas velhas
Que belos anos não tinham
Imploravam com mãos trêmulas
Drinques aos loucos que vinham
Buscando novas corujas
Que eram novas, porém sujas
Como bacias nocivas
Vasos onde os indivíduos
Derramam podres resíduos
De putrefatas salivas
VI
A boca da leviana
É um sarcófago de insetos
Seus seios leitos ocultos
De vermes irrequietos
Os olhos, tochas malignas
Que reinam sombras indignas
De brutos fantasmas críticos
E o ventre? Fábrica do mal
Da confecção brutal
Dos apóstolos favoritos
VII
Ao deixar essas taperas
Com tapetes de mulambos
Porque se Deus os olhasse
Talvez os incendiasse
Desde o piso até as telhas
Pra que essas casas tortas
Não abrissem mais as portas
Pra outras pobres ovelhas
VIII
Fica-te aí rua negra
Covil de bestas humanas
Paraíso de larápios
Abrigo de doidivanas
Fica, maldita! Que eu parto
Pra solidão do meu quarto
Onde meus filhos habitam
Vou em busca de outras ruas
Com nojo das casas tuas
E dos loucos que te visitam

Diniz Vitorino